Let Go!

terça-feira, abril 29, 2008

Fica
O que está escrito atrás do filme, do balé e da noite da Lapa.
Joaquim Ferreira dos Santos

Ah, não me deixa. Está no novo filme do Wong Kar Wai, na nova coreografia da Deborah Colker, todos eles falando sobre abandono, traição e o jogo sujo da crueldade amorosa. Por favor. Olha. Escuta. Não faça o mesmo. Dói. Veja a multidão desesperada na Lapa, no Baixo Botafogo, todos dedicados ao jogo sem regras de pegar gente. Olhos em giroscópio, caçadores de almas. Não coloque mais um personagem na guerra selvagem dos apaixonados que deixam de sê-lo, pronto, na cena seguinte tem mais alguém na grande comunidade dos solitários amargando o calvário tão moderno de estar abandonado, seqüelado e todas as outras rimas de coitado. Mais um que abaixa a cabeça no tampo frio dos balcões e pede um pedaço de torta de blueberry que ninguém quis. São personagens bêbados pela falta de alguma explicação, vítimas de perplexidades amargas, de perguntas sem respostas, de telefones que emudeceram, de um ausência que nada preenche. Ela. Ele. Alguém foi embora. Sem mais. Sem aviso prévio. Nem aí para mais um coração quebrado na sarjeta. Dói na garganta de cada um a possibilidade de ser o próximo a vagar, trêbado, as fichas brancas do AA no bolso da camisa, a repetir cabisbaixo, taciturno, esse mantra dos que, de repente, ficaram sozinhos. Por quê? O que aconteceu? Fala. Responde. Atende o telefone. Eu vi todas aquelas portas batendo na cara de gente-como-a-gente no filme do Kar Wai, gente que só lhe quis tanto bem, e, eis-me aqui, antes que seja tarde, urge abrir o jogo, cantar os versos básicos daquela canção. Não se vá. Ouve só. Hora de repetir o balbuciar dos trágicos do Nelson Rodrigues. Olha. Presta atenção. Escuta. Eu estava no cinema, logo depois na primeira fila do balé do Municipal. Senti o medo que permeia os bastidores sentimentais de todos esses artistas geniais, a certeza de que já aconteceu com eles também.- e com quem não? Percebi que na hora do embate amoroso nós somos dois sem-vergonhas, leitores de "Capricho'', ''Ilusão'', ''Sétimo Céu'' e ''Grande Hotel'', todos tementes de que role na real o que agora acontece com os artistas na fotonovela, na tela e no palco. Acabou. Fui. Como se diz adeus para uma pessoa com quem você imaginou ficar junto a vida inteira? Como se percebe que aquele beijo foi o último e, ao contrário de todas as outras que faziam fechado, em "ohm", ela nunca mais lhe gemerá aos braços a felicidade aberta em ''ahm''? Ninguém sabe a resposta. Há conselheiros vendendo livros sôfregos, oferecendo folhetos ansiosos com a promessa de solução. No las hay. As bruxas do desprezo e da rejeição, sim. Não há uma fórmula que se decore e amadureça para participar, sem dor, desse jogo de sinais. Não é War. Há quem diga adeus na lata. Há quem, um telefonema a menos hoje, um encontro menos empolgado amanhã, aos poucos vai mudando de trem e atracando em outra estação. Acontece de tudo, sofre-se das maneiras mais inéditas e sem vacina de prevenção. Uma dengue que dá no peito. Ninguém amadurece o suficiente para tirar de letra o aviso ou a falta dele. Fui. Não há bula. Nenhum genérico. No filme, uma porta se fecha sem qualquer explicação, sem sequer o último bilhete para fazer o acerto do caixa sentimental- e ela, e ele, nenhum dos dois nunca mais volta. Sofre-se. Os desassistidos, os descontinuados do amor. As mulheres mais lindas desta geração estão sozinhas, os rapazes mais espertos não sabem o que fazer. Foi aí que tocou o horror de se fazer súbito silêncio nos sete sinos da felicidade a porta do apartamento, foi aí que alguém, deu para ouvir daqui, gritou uma dor qualquer- e eu amplifico. Fica. Bateu o medo surdo-mudo de virar personagem de filme, virar coreografia de vanguarda, virar bolero antigo e depois ronronar sozinho pelas ruas, pelos estacionamentos, cantando a velha canção de Gullar e Caetano que Calcanhoto acabou de gravar. Onde andarás nesta tarde vazia? Em que bar, em que cinema, esqueces de mim? Por isso, todos os artistas sofrendo do mesmo pavor eterno do abandono, do olho na rua, do meio-fio dos cachorros babuchos, por tudo isso aqui se está, jogando aos seus pés, na tentativa desesperada de fugir da balada-paranóica que a todos consome e iguala. Não pica a mula. Não bate a porta. Fica comigo esta noite, a de amanhã também, e a do fim de semana será como no início de tudo, os mesmos sorrisos, um banho de morritos em todos os erres da crueldade da perda. Não te arrependerás. Lá fora o frio é um açoite, calor aqui tu terás- e todas as outras músicas que falam das almas secretas de cada um. Acredita. Sente só. Não chore com a voz triste do Ottis Redding cantando ao fundo. Não se impressione com o jogo de faca dos que traem e abandonam. É só uma música do filme, uma cena impressionante do balé, e nada disso tumultuará o sono dos que querem dormir em conchinha de adoração positiva e nunca acordar para o pegapracapá dos sonâmbulos lá fora, dos deserdados amorosos rondando o quarto aquecido em que agora está. Eis o único projeto possível. Ficar junto. Ganhar a Libertadores da América. Comer sardinha frita na Cadeg. Sussurar no ouvido a promessa definitiva. Nunca mais as noites aflitas no Trapiche Gamboa, o dar mole no Carioca da Gema, o pisca-pisca do Orkut. Nunca mais vagar ao lado de todos os zumbis cegos pela rejeição amorosa, capazes de deixar a chave no balcão do Capela e esperar que ele, que ela qualquer um dos tantos que já se foram, tenha uma crise de arrependimento e reconsidere. Abra a porta de novo. Perdão. Perdoa. Agora vai ser diferente. Nunca mais um motivo pra beber. Pedir um traçado no balcão e perceber, no primeiro trago, que ninguém bebe aquilo por gosto-e, mesmo assim, o fígado pedindo tempo, ter vontade de pedir outro para dar um porre no passado. Afagar a dor. Foi a última dose. Nunca mais qualquer migalha noturna que sirva apenas para esquecer. O telefone vai tocar o lero, o bolero, o tango e todas as outras delícias sonoras da conversa dos amantes. Como você está vestido? Já comeu alfajor de maisena? Os filmes, os balés, os bares da Lapa. Nunca mais o 'procura-se' piscando néon na boca do peito de um Baixo qualquer, a bandeira cruel de que se está no mercado à cata do que quer que seja e- por favor ele acabou de pedir as contas, ela não telefonou mais- alivie a dor de um inverno já aparecendo na esquina . Sente só. Ouve. Escuta de novo esse bolero que toca desde o início e, ah, não me deixa.

publicado segunda feira, 28 de abril de 2008, no Jornal O globo, segundo caderno.

assim, sem parágrafos mesmo.

negritos por mim.

O cara ouviu o grito, que eu dei na última quarta feira.
Ele ouviu o choro no meio do pátio principal da faculdade depois da aula.
Ele viu que eu tive que socar uma almofada pra ver se algo mudava.
Ele disse que meus olhos estavam tristes, e minha voz havia mudado.
Ele perguntou se estava tudo bem, mesmo sabendo a resposta.
Quis conversar quando eu não acordei muito bem no sábado.
Brigou com o diabinho que me persuadiu a deixar de tomar suco de laranja.
E falou que estava tudo errado quando eu sacaneei o menino que queria cuidar do meu coração.
Quando a bebedeira atingiu proporções deslimitadas disse pra mim que eu não presto, mas ainda assim, não mereço ser abandonada.

domingo, abril 27, 2008

"longe dos olhos, longe do coração"

quase me esqueci do título desse blog.
mas hoje não.
nem amanhã.
nem daqui pra frente.

suco de laranja não ajuda, mas cerveja também não.

eu sou a menina dos sentimentos relâmpagos.
tenho que aceitar isso.

quinta-feira, abril 24, 2008

Infelicidade.
E ainda assim eu vivo.
Esperando o espaço se tornar grande demais e necessitar encolher.
Esperando o tempo passar e se tornar uma fase superada.
Esperando as coisas sem sentidos tomarem rumos diferentes, mesmo que ainda assim essas coisas não sejam compreendidas.
Esperando você, e eu, e nós, e nossas almas se encontrarem de novo, pois a minha está te procurando. Trabalhando, mesmo que internamente.
Pois eu estou compreendendo o incompreenssível. E aceitando a existência dele. E encarando o que não se pode vencer. Mas amadurecendo mesmo com algo que não se pode entender.

*Hoje meu professor de estética disse que é muito bom boiar, ficar perdido, não entender, para então poder questionar. Senão não teria graça. A vida não faria sentido, e tudo seria gratuito. E é ótimo, que não seja. É necessário que seja maior do que nossos pensamentos e sentimentos podem captar.

terça-feira, abril 15, 2008

Il y a longtemps que je t'aime, jamais je ne t'oublierai.

sexta-feira, abril 11, 2008

Eu não sei o que fazer com os biscoitinhos...

segunda-feira, abril 07, 2008

Minha mãe foi me buscar. Às 11 da manhã. E me acordou num susto.
Eu não sou uma caneta. Mas acho que vou precisar dos biscoitinhos. E as instruções.
Foi um pouco mais que um sonho.

sábado, abril 05, 2008

All I know is that you're so nice,
You're the nicest thing I've seen.
I wish that we could give it a go,
See if we could be something.

I wish I was your favourite girl,
I wish you thought I was the reason you are in the world.
I wish I was your favourite smile,
I wish the way that I dressed was your favourite kind of style.

I wish you couldn't figure me out,
But you always wanna know what I was about.
I wish you'd hold my hand when I was upset,
I wish you'd never forget the look on my face when we first met.

I wish you had a favourite beauty spot that you loved secretly,
'Cos it was on a hidden bit that nobody else could see.
Basically, I wish that you loved me,
I wish that you needed me,
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three.

I wish that without me your heart would break,
I wish that without me you'd be spending the rest of your nights awake.
I wish that without me you couldn't eat,
I wish I was the last thing on your mind before you went to sleep.

All i know is that you're the nicest thing I've ever seen;I wish that we could see if we could be something

terça-feira, abril 01, 2008

É ler um post de fevereiro e ver que eu estou disposta a encarar tudo de novo, e de novo e quantas vezes fosse necessário.
Eu encararia o mundo todo pra fazer tudo dar certo, pra sermos felizes juntos.
Porque não estou pronta pra let go, por mais que agora seja a hora.