Ela encosta a cabeça na janela e fecha os olhos. Evita olhar o percurso que a faz perceber como sua vida é real. Por um instante quer fingir ser outra pessoa, em outro lugar, outro contexto. Pelo amor de deus me troque essa vida mísera e me de um conto de fadas para viagem por favor.
Não é nada demais. É simples. É tristeza, simples pura sem castanhas e sem coberturas, e nada de cerejas no topo. É crua e sem temperos. É falta de felicidade.
Atrás de piadinhas, sorrisos e gargalhadas ela se esconde. Pois o eco de uma gargalhada inocente e da ironia sonora esconde qualquer falta de felicidade que aquela menina possa ter. Ela é vazia, mas se faz de completa, cheia, preenchida, de vácuo. Engana a todos tão bem. Uma menina perfeita.
Ela toma um banho pra lavar as tristezas. É difícil lavar uma alma. Enxuga as dores e absorve sentimentos. Ela não se sente bem. Delicadamente ajeita o cabelo com presilhas que a faz parecer uma princesa. Ela gosta da fantasia de menina fofa que ela mesmo se coloca. Com pincéis ela faz arte. Transforma a tristeza em obra de arte, uma grande mentira. Os sentimentos humanos são personagens feios e precisam de maquiagem, de plástica, de adereços. Precisam do ângulo certo e de uma determinada quantidade de luz, para a farsa se tornar real. Sim, ela se maqueia com ar de quem sofre. O pó esconde a última lágrima sem razão. Uma menina que sofre, sem razão. A mais bela obra de arte do espetáculo humano.